A cultura dos relacionamentos descartáveis


Vivemos num mundo capitalista de configuração consumista que detesta tudo o que é durável, mas valoriza tudo o que seja de uso instantâneo. No consumismo não se valoriza o acúmulo de bens permanentes – porque priva o consumidor da possibilidade de experimentar novas sensações e isso leva a frustração e ao tédio – mas usar e descartar os bens em seguida, a fim de abrir espaço para consumir novos bens, usos e novidades mais novas do que um segundo atrás. Assim, uma pessoa bem sucedida é aquela que convive sempre com novidades, variedades e rotatividades. Disso, surge a cultura do descartável e do aluguel. Nessa cultura, você não compra, aluga.

Nossos relacionamentos seguem a mesma mentalidade da cultura do descartável. As pessoas e os relacionamentos se tornam descartáveis quando se aluga o corpo e o coração do outro por motivos utilitaristas. E assim, surge o risco de você ser abandonado pelo seu parceiro, sem o seu consentimento, quando você não for mais útil. Disso, surgem medos, inseguranças, incerteza, trocas, chantagens e superficialidades. Nesses tipos de relacionamentos, o compromisso e a fidelidade são isentos, porque gera privação de novas sensações, experiências, possibilidades. Porque o viver junto é substituído pelo ficar junto até quando houver vantagens, benefícios, satisfação e a libido.

É trágico diagnosticar que a convivência foi substituída pelos encontros episódicos sem compromisso. O casamento foi substituído pela sucessão de romances com taras sexuais. O divórcio foi substituído pelos CSS – casais semi-separados. O adultério passou a ser uma aventura necessária para valorizar os (des)casados. As amizades foram substituídas pelas salas de chat e as redes, onde se pode conectar e desconectar a qualquer hora, sem compromisso, promovendo relações fantasiosas ou relações profundas protegidas pelo anonimato da máscara da falsidade.

Nesses relacionamentos descartáveis surge a insaciável expectativa de que o melhor - pessoa, beijo, transa, romance, aventura, paixão, vantagem, lucro - está por vir e que há algo melhor pelo que esperar. Ou seja, uma sensação de insatisfação tipo “não era bem isso que eu queria”. Assim, as pessoas acabam desaprendendo o amor verdadeiro e tornam-se incapazes de conjugar o verbo amar de todo coração. A sensação de que se pode ser abandonado e substituído a qualquer momento provoca ansiedade, insegurança, incerteza, ciúme doentio e isso impede a entrega total; uma vez que se tem a sensação de insatisfação, perda, falta, e engano, enquanto se relaciona com os outros.

Fazendo essa leitura da cultura dos relacionamentos descartáveis podemos ter 3 princípios do evangelho para reciclar nossos relacionamentos:

(1) AMOR É ACEITAÇÃO INCONDICIONAL (I Co 13:4) – Ao se relacionar com alguém não espere pessoas prontas, completas e concluídas, mas estimule e caminhe junto à maturidade.

(2) AMOR É TRANSFORMAÇÃO E REALIZAÇÃO (I Co 13:5) – Amar não é satisfação egocêntrica. Quando seu relacionamento não estiver satisfatório, não mude de parceiro(a), mas mude a si mesmo e o relacionamento.

(3) AMOR É UMA ETERNA CAMINHADA DE FIDELIDADE E COMPROMISSO QUE SE RENOVAM A CADA MANHÃ (I Co 13:7) – Amor não é um episódio ou um encontro virtual esporádico, nem atração física superficial e descartável. Mas é andar junto, é convivência, proximidade, entrega, coração despido de máscaras, intimidade em direção à profundidade do ser amado.

(4) O AMOR VERDADEIRO É ETERNO, PORQUE “NUNCA PERECE” (I Co 13:8). Assim, o amor, segundo os ensinamentos da Palavra de Deus, recicla qualquer relacionamento destruído pela cultura do descartável.

Ame. Amém!

Jairo Filho

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