Orar é desfrutar da presença de Deus


Oração é uma palavra que faz parte do vocabulário cristão. A maioria de nós cristãos, de uma forma ou de outra, fazemos orações. Muitos fazem orações populares e cotidianas: “Seja o que Deus quiser”, “Deus te abençõe”, “Vai com Deus”, “Abençõe esse alimento”. Outros fazem orações para espantar e se proteger do mal quando estão com medo: “O sangue de Cristo tem poder”, “Ai, meu Deus!”. Alguns outros fazem apenas orações sanguessugas: “me dá isso, me dá aquilo, Deus”. Alguns mais, oram ordenando a vontade de Deus: “Eu decreto, eu determino, eu amarro, eu solto em nome de Jesus”. Muitos outros, oram para manipular a vontade de Deus através de barganha: “Se o Senhor fizer o que quero, eu prometo que darei tudo o que quiserdes”. Quem faz orações populares e cotidianas, ora sem pensar e não ora com o coração, apenas ora em vãs repetições. Quem ora só quando está com medo do mal, usa Deus como um guarda costa, um escudo ou uma bolha protetora somente quando corre perigo. Quem dá ordens ou faz barganha com a vontade de Deus nunca se rendeu a soberana vontade de Deus; na verdade, usa Deus como um empregadinho domesticado pela fé para tentar comprar o seu imerecido favor pela moeda da fé corrupta.

Esses tipos de orações não são as orações que agradam a Deus. Jesus nos ensina que a oração que agrada a Deus é aquela que é feita como uma amizade com Deus, pelo simples prazer de estar em sua presença e companhia. Como dizia, Clemente de Alexandria: “Orar é desfrutar da presença de Deus”. Então, posso dizer que a oração é a experiência espiritual cristã de um diálogo íntimo de amizade com Deus. Quando digo espiritual significa uma experiência de buscar a solitude, no silêncio e no secreto do coração para está a sós com Deus (Mt 6:6). Dizer que é diálogo implica dizer que Deus fala e eu respondo ou eu falo e Deus responde. Dizer que é amizade é dizer que orar é está na companhia de Deus o tempo todo. É uma oração que reflete um relacionamento onde o nosso coração está despido diante do nosso maior amigo Deus, onde não há segredo, desejos, intenções e motivações ocultas para Deus. O Agostinho de Hipona já orava assim: “Diante de Deus, está sempre descoberto o abismo da consciência humana: que poderia haver de oculto em mim para Deus, por mais que eu não quisesse dizer a verdade? Conseguiria apenas ocultar Deus aos meus olhos, mas não poderia ocultar-me dos seus.” (AGOSTINHO, Santo. As confissões. 2º edição. Quadrante, São Paulo, 1989, pág 177.)

O pastor Ed René Kivitz disse certa vez que “orar é está com Deus além das palavras”. E isso significa buscar a solitude, o silêncio e o secreto do nosso coração. Porque Deus Pai não está tão interessado em ouvir nossa orações públicas que fazemos em pé com grande eloquência a fim de sermos admirados pelos outros, nem está interessado nas vãs repetições de nossas orações para informar a Deus algo sobre nós que imaginamos que Deus não saiba, nem está interessado em ouvir os argumentos das nossas orações quem tentam convercer Deus a dar aquilo que queremos. Mas Deus Pai está interessado em vê o nosso coração (Mt 6:6). Quando abrimos nossa boca, nosso coração é pintado na parede do nosso quarto, porque a boca fala do que está cheio o coração.

Quando oramos para desfrutar da presença de Deus sempre há uma profunda transformação no nosso coração. Soren Kierkegaard disse que “A oração não transforma a Deus, mas transforma aquele que ora. Não oramos a fim de informar a Deus, como Ele ignorasse os eventos e aquilo que estamos pensando e sentindo. Antes, oramos dizendo: “seja feita a tua vontade”, a fim de que, em nosso companheirismo com Ele, como pessoas que oram, realmente comecemos a tornar-nos pessoas diferentes. Nosso ser interior começa a ser transformado pela vida e pelo espírito da oração”.

Em resumo: Quais as implicações desse conceito para nossa vida cristã?

(1) A oração deixa de ser um ritual religioso momentâneo e passa a ser um estilo de vida, onde oraremos sem cessar (I Ts 5:17), porque estaremos desfrutando da presença de Deus assim como ar que respiramos.

(2) A oração deixa de ser um sacrifício acético que promove culpa para os que fracassam em não ter uma vida de oração, para ser uma experiência prazerosa e cheia de graça de desfrutar da presença de Deus além das palavras.

(3) A oração deixa de ser nosso monólogo ou uma verborragia vã e repetitiva para se tornar em um diálogo prazeroso de amor com Deus 24 horas por dia.

(4) A oração deixa de ser um ato religioso hipócrita que usa palavras decoradas e eloqüêntes a fim de ser aplaudido pelos outros, para ser uma experiência em que Deus Pai, que está em secreto, vê o nosso coração humilde e carente de sua presença e graça.

(5) A oração deixa de ser da boca pra fora quando, em oração, nosso coração é despido na presença de nosso amigo Deus para ser transformado.

Conclusão: Orar é quando o coração desfruta da presença de Deus além das palavras verbalizadas e ouvidas, a fim de se despir para ser transformado por Deus.

Jairo Filho

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