Pedro Zé e o jornalista

São 15:00. Um jornalista apressado chama o táxi. O táxi chega. E o motorista, Pedro Zé, já começa o assunto.

Pedro Zé: Oi. Boa tarde. Onde o senhor deseja ir?

Jornalista: Leve-me até a avenida principal da cidade.

Pedro Zé: OK!

O jornalista, muito curioso, observa vários versículos bíblicos colados no carro. E pergunta: O senhor é crente?

Pedro Zé responde: Não. Não sou crente não. Eu sou evangélico. Todo mundo é crente, mas só alguns são evangélicos.

Jornalista: É mesmo? E o que é ser evangélico?

Pedro Zé: Ser evangélico é ser um crente fiel da igreja evangélica. É ser membro. É ir a todos os cultos da igreja. Falando nisso, eu queria convidar o senhor a ir no culto de hoje a noite na minha igreja. Hoje vai ser o culto da benção sem fim.

Jornalista: Onde é tua igreja?

Pedro Zé: É aquela igreja grande que fica na avenida principal.

Jornalista: Ah! Eu vou descer perto dessa igreja. E como são os cultos da tua igreja? Em que você Crer?

Pedro Zé: O culto é benção pura. A unção desce naquele lugar. Eu gosto de lá, porque lá prega que só Jesus Cristo é o Senhor. Nessa igreja eu aprendi que Deus salva apenas as pessoas obedientes e santas – por isso eu oro, faço jejum, evangelizo todo mundo, vou a igreja, me santifico. Graças a Deus eu sou um crente muito fiel. E eu falo isso com muita humildade.

Jornalista: E o que se prega nesses cultos?

Pedro Zé: O pastor prega que Deus abençoa somente quem se sacrifica. Quando alguém quer receber uma graça de Deus tem que dar alguma coisa em troca para Deus. Por ex: Você quer aumento de salário, então dê a Deus muitas ofertas em R$ que seja um sacrifício pra você na corrente da fé. Ou seja, o tamanho da benção depende do tamanho do sacrifício. E eu creio nisso. Por isso que sou evangélico.

Jornalista: E mesmo depois de ofertar, se o crente não receber a benção que tanto espera?

Pedro Zé: Se não receber, é porque o crente não cumpriu toda a campanha da fé. São 7 semanas de corrente de fé “bençãos sem fim”. Deus honra somente aqueles que perseveram. Mas, olha, o senhor não pode faltar nenhuma noite, nem desistir no meio da corrente, senão, tem que começar tudo de novo. E se faltar, perde a benção. O senhor não vai querer perder a benção né?

Jornalista: E se o crente faltar um culto ou não ofertar?

Pedro Zé: Deus não vai dar a benção para os infiéis. Deus abomina aqueles que pecam e quem desiste de perseverar na corrente da fé. Por isso, eu não falto a nenhum culto, senão eu perco a benção e Deus pode me castigar.

Reporte: E o senhor já ganhou as bênçãos que tem pedido a Deus?

Pedro Zé: Meu filho ainda não foi curado do câncer, porque eu faltei a dois cultos. Nesses dois dias eu faltei porque precisei ganhar mais dinheiro fazendo duas viagens, pra dar de oferta na igreja, e quando eu cheguei na igreja, o culto já tinha terminado. Eu me sinto culpado até hoje por causa desse meu pecado. Se não fosse isso, meu filho já teria sido curado. Acho que é por isso que meu filho mais velho ainda está nas drogas também.

Jornalista: Então o senhor carrega culpa?

Pedro Zé: O que não dá certo na minha vida é culpa minha. Deus nunca é culpado de nada. Lá na nossa igreja é diferente da outras igrejas. Lá, nós temos muito respeito por Deus. Com Deus não se brinca. Se não houver sacrifício de nossa parte, Deus não abençoa. Deus nos chama a carregar a cruz como sacrifício pra ele. É assim que é, e é assim que deve ser.

Jornalista: Tá bom! Obrigado. Chegamos onde eu queria. Pode ficar com o troco pra você dar na igreja por mim, pra vê se Deus me salva.

Jornalista chega ao seu destino. Ele se encontra com um amigo para uma reunião de negócios. E os dois começam a conversar.

Jornalista: Acabei de ouvir um papo religioso com um taxista careta cheio de culpa. Ele vive indo a igreja pra ser mais santo com medo de Deus. Ele nem sabe, mas ele tá tentando comprar o favor de Deus com seus dízimos.

Amigo do Jornalista: Esses crentes são todos uns loucos. A minha avó vai numa igreja que só tem pessoas esquizofrênicas. Na igreja dela as pessoas se vestem esquisito. Não aceitam pessoas como elas são. Os irmãos da igreja dela nem conversam comigo, só porque eu uso tatuagem e tenho esse cabelo. Eles se acham melhores do que eu.

Jornalista: O taxista crente me passou uma imagem de um Deus muito injusto; um Deus que está 24 horas nos vigiando só para nos castigar. Pareceu-me um Deus corrupto onde um dízimo e uma freqüência assídua a igreja pode apagar a ira Dele. Isso significa que eu posso comprar a benção de Deus. E assim, a benção deixa de ser de graça. Eu não entendo esses crentes. Por isso que eu não vou a igreja. Busco a Deus do meu jeito.

Amigo do Jornalista: Eu não preciso ir a igreja para buscar a Deus. Eu não preciso entregar dinheiro para os pastores, nem ser um santo para ir ao céu. Eu faço caridade uma vez no mês naquela creche. E isso já basta. Além do mais, se minha salvação dependesse da minha santidade eu tava frito. Eu nunca vou ser aceito. Deus não aceita fumantes nem bêbados como eu.

Jornalista: Meu tio foi pastor de uma grande igreja. Mas descobrir depois que ele roubava tanto. Ele era tão rigoroso com as regras da igreja, mas soube que ele tinha várias amantes. Por isso eu não vou a igreja. Deus é injusto, Ele permite tanto sofrimento e nem sequer dá uma mãozinha pra gente. Lembro que quando eu perdi minha mãe, me senti tão só, desesperado e me disseram que minha mãe não foi curada porque eu não tive fé. Eu tive muita paciência para aturar aquele taxista crente. Quase que eu dizia a ele para não acreditar mais em Deus porque não vale a pena servir a Deus. O filho dele pode até mesmo morrer. E a culpa será de Deus. E o coitado fica sacrificando a vida toda e prol de um Deus que não nos ajuda no sofrimento.

Amigo do jornalista: É verdade. Por isso eu curto a minha vida do meu jeito. Não tô nem aí para igreja e pra esse papo careta de religião. Eu sou a minha religião. Eu determino o meu jeito de viver. Falando nisso, marquei com aquelas meninas, uma festa lá na minha casa hoje a noite.

Jornalista: Hoje vai ser a noite da paixão; não a paixão de Cristo, mas a nossa paixão. Vamos lá?

Amigo do jornalista: É isso aí, vamos aproveitar esse feriado longe da igreja e perto da mulheres....


É assim que falam os evangélicos. É assim que falam do "evangelho". É assim que falam dos evangélicos.

Esse é o perfil de nossa geração.

Que evangelho temos vivido e pregado?

Pense bem!

Jairo Filho - Escrito em 07 de abril de 2007 com muitas inquietações no coração sobre a diferença entre evangelho e religião.

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