O que não é oração

ORAR NÃO É UMA RELAÇÃO UTILITÁRIA NEM FUNCIONAL – ou seja, Deus só serve quando é útil, ou, Deus é conhecido e procurado exclusivamente por exercer uma função de realizador de meus desejos. Ex: Às vezes, nossas orações transformam Deus num eletrodoméstico usado para resolver nossos problemas ou para fazer mais rápido aquilo que não consigo fazer. E quando esse eletrodoméstico não funciona, descartamos e jogamos no lixo. Assim, conhecemos Deus apenas pelo que ele faz. E quando ele não funciona como nós desejamos, descartamos Deus de nossas vidas.

ORAR NÃO É UM INSTRUMENTO usado para transformar a realidade da minha vida, a fim de extrair o máximo do poder de Deus, nem é um meio ou recurso para mover a mão de Deus ou colocá-lo em movimento, como se Deus fosse um preguiçoso irresponsável, indolente e emburrado, sentado sobre um trono de má-vontade. Jesus disse: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”. (Jo 5:17).

ORAR NÃO É UM MEIO DE CONSUMO onde transforma a fé daquele que ora em moeda de troca e compra. Não podemos resumir a oração num negócio, barganha ou troca. Às vezes, nossas orações são transformadas em comércio, onde aquele que ora é o consumidor compulsivo e Deus é transformado em vendedor carente que vende favores em troca de amor. Ou, quando oramos, somos como aquela mulher de 20 anos que casa com um bilionário de 95 anos com a intenção exclusiva de herdar toda a sua fortuna. Ou ainda, antes muitas criança oravam para ganhar de presente uma bola, hoje, toda criança ora desejando um computador. Infelizmente, o conteúdo de nossas orações é determinado pela tecnologia do mundo consumista e capitalista.


ORAR NÃO É UMA FERRAMENTA DE MANIPULAÇÃO DIVINA. A oração não pode ser definida numa relação de manipulação da vontade de Deus ao meu favor, como se Deus fosse convencido a mudar de idéia e atitude para conosco, quando é iludido pelos nossos mais inteligentes argumentos de persuasão. Isso significa que orar não é um amontoado de palavras decoradas, repetitivas e vazias ditas com a intenção de convencer Deus a responder a petição do fiel.

ORAR NÃO É UM RITUAL RELIGIOSO verbalizado com palavras decoradas resumidas num monólogo inerte e vazio que mascara a sinceridade do coração. Porque orar não é um evento nem uma realização que tem um intervalo de tempo com início, meio e fim e nos induz a definir uma dicotomia em nossa agenda – onde oração é hora sagrada e não orar é uma hora de pecado mundano e secular. Por isso, orar não é um costume religioso tradicional feito por hábito para manter o costume. A oração que é oferecida “porque eu sempre orei assim desse jeito como sempre me ensinaram” imuniza-nos contra a verdadeira oração, impedindo-nos de encontrar um relacionamento vivo com Deus. O hábito e o costume de orar quando se tornam impensados e automáticos, podem exercer um efeito destrutivo em nosso relacionamento amoroso com Deus. Jesus falou sobre o perigo de “amontoar palavras vazias”, na tentativa de impressionar a Deus em oração. Dizer orações decoradas, sem reflexão séria ou sem intuito pessoal, faz correr o risco de tornarem-se as “vãs repetições”, que Jesus tão severamente criticou. Dá-se esse caso, sobretudo, quando se recita a oração “Pai Nosso”, tão repetida. Ironicamente, foi quando Jesus ensinou essa oração aos Seus discípulos que Ele os advertiu sobre os perigos das orações automáticas e desmentalizadas. O profeta Isaías, falando em favor de Deus, expressou isso perfeitamente quando disse: “Visto que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim...” (Isaías 29:13).

ORAR NÃO É NOTICIÁRIO. Orar não é informar Deus os fatos de nossas vidas, como se nossa oração fosse um noticiário e Deus fosse um ouvinte desinformado que ignorasse os fatos de nossa vida, ignorasse quem somos e aquilo que estamos fazendo, pensando e sentindo.

ORAR NÃO É UMA CHANTAGEM EMOCIONAL para extrair o poder de Deus de realizar nossos desejos, como se Deus fosse tão carente e inseguro que precisasse de nossas orações para sobreviver. Isto significa que a oração não é um jeito de ameaçar Deus de abandono e solidão caso Ele não atenda nossos pedidos.

ORAR NÃO É FAZER GUERRA COM DEUS NEM CONTRA O PRÓXIMO. A oração não deve ser feita como uma arma de guerra jurídica para exigir de Deus que ele devolva o que é meu por direito, como se fossemos dono de nossas próprias vidas e Deus não passasse de um ladrão mesquinho e egoísta que roubou nossos bens. A oração também não deve ser feita como arma de guerra contra o próximo quando usamos a oração como uma “boacumba evangélica” que joga praga para os nossos piores inimigos na encruzilhada dos conflitos.

ORAR NÃO É USAR MÁSCARA DE SUPER ESPIRITUAL. A oração não deve ser transformada num termômetro espiritual que cria comparação e abre as portas do nosso coração para a chegada da febre do orgulho. Porque a oração não é um exercício espiritual de sacrifício para crescer os músculos da justiça própria em nosso coração

“Senhor, ensina-nos a orar”. Precisamos confessar a nossa fraqueza de viver sem orar, a nossa incapacidade de orar com egoísmo e nosso inadequado jeito de orar.

Deus nos convida a aprender a orar a Deus através de nossas fraquezas e debilidades, a fim de crescermos na graça do Senhor Jesus, sendo guiados pelo Espírito Santo que ora em nós e por nós quando não sabemos orar.

Em Cristo, a oração encarnada

Jairo Filho

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