Meus 27 anos de vida


Há exatamente 27 anos, na quinta feira, 28 de outubro de 1982 - mesmo sendo gerado aproximadamente nove meses antes - eu saí do ventre da minha mãe. Nesse dia, às 6:00 am, ouviu-se o choro de vida do menino José Jairo do Amaral Filho, com 3,2 kg e 51 cm. Impregnado pelo sangue do ventre materno e pelo sangue eterno de Jesus, saio do útero de minha mãe para ser regenerado na minha história pela eterna cruz de Jesus; a fim de viver para Deus como o primeiro filho a inaugurar o ventre materno de mainha, sendo o rascunho preparativo que antecedeu as duas mais belas obras de arte da família, posteriormente feitas por meus pais: as minhas duas lindas irmãs.

Minha mãe conta que quando estava sentindo as dores do parto, meu pai estava tão nervoso que não sabia se levava minha mãe para o hospital ou se arrumava engraxando o sapato para me receber.

Graças a Deus, sou fruto do relacionamento de amor de meus pais; hoje, casados há 28 anos. Sempre ouvi meus pais dizerem que sempre fui desejado e amado antes mesmo do meu nascimento. Eles receberam tanto amor de Deus e tinham tanto amor um pelo outro que o coração deles transbordou abundantemente de amor a ponto de ser impossível não ter filhos para compartilhar a dádiva do amor em família.

Lembro de uma ocasião na minha adolescência que eu briguei com meus pais, a ponto de ficar com muita raiva deles. Quando estava arrumando umas coisas em casa, encontrei uma carta nunca antes descoberta por mim. Li e chorei constrangido pelo amor de meus pais por mim, antes mesmo de eu nascer. Esse amor me motivou a pedir perdão e a obedecê-los por amor em resposta ao amor deles por mim. Agora transcrevo a carta que meus pais escreveram quando cheguei a este mundo. Que seja arquivada aqui e lida pelos meus tataranetos.

"Carta escrita quando você nasceu
Iguatu-CE, 07/11/1982


Seja bem vindo!


Nosso querido filho, você será mais um motivo de alegria para nossa vida. Durante nove meses estivemos nos preparando na expectativa da sua chegada. E enfim você chegou.


Jairo Filho, você chegou a nossa casa no dia 31/10/1982, dia de domingo, às 17 horas. Sua avó Mariinha foi a primeira a lhe banhar, e você fez xixi no vestido dela.


Pessoas que lhe visitaram logo após a sua chegada: Minha tia Socorro e o filho dela, Sandra, minha avó Expedita, Carlos, Rosimar.


Beijo de seu pai feliz da vida,
Jairo Amaral"

Além dessa carta fiz outra grande descoberta: Quando eu tinha 19 anos, enquanto era estudante na faculdade de Teologia e vocacionado ao ministério pastoral, meu pai me confessou, com os olhos lacrimejando, que minha vocação pastoral é fruto de uma oração feita antes de eu nascer. Nesse mesmo momento meu coração e minhas pernas tremeram. Nunca ele me obrigou, ordenou ou me iludiu para que eu me tornasse pastor. Pelo contrário, ele sempre me apresentou a face nua e crua do ministério pastoral. Mas, a graça da vocação de Deus me alcançou; e quando meus frutos ministeriais começaram a revelar minha vocação, meu pai fez essa confissão. Nesse exato momento que se chama hoje, 28 de outubro de 2009, eu me lembro dessa confissão-testemunho com muitas lágrimas de amor, e agradeço a Deus por ter me escolhido imerecidamente para amá-lo e serví-lo de coração, por toda a minha vida.

Acredito que o amor de meus pais, expresso nessa carta e na oração por mim, ilustra o amor de Deus. A Bíblia é a carta de amor de Deus por nós. E esta carta nos revela um Deus que, por Ser Amor, decidiu nos redimir antes da criação do mundo quando o cordeiro eterno de Deus, o seu filho Jesus, foi morto na eternidade antes do início do cronos. Deus decide amar e criar o mundo, mesmo sabendo que sua criação poderia se rebelar contra ele. Assim, a maior prova do amor de Deus está em criar o mundo que lhe custaria o sacrifício do Filho. A cruz na eternidade é anterior a crucificação histórica no calvário. A rendenção é antes da criação. O “Está consumado” ouvido no calvário foi o carimbo histórico de que já estava consumada, na eternidade, a obra da cruz. Só assim, foi possível criar o mundo. Como diz a inesquecível frase do Ariovaldo Ramos: Antes de dizer: “Haja luz”, Deus disse: “Haja cruz”. Antes de criar, Deus teve que salvar. Pois a crucificação não foi um plano B para resolver um imprevisto, mas a eterna cruz é o único e suficiente plano de Deus para seu relacionamento com a sua criação.

Tanto essa revelação do amor de Deus quanto à carta de meus pais e a oração pela minha vocação me ajudam a interpretar corretamente minha biografia até agora e olhar para frente com sonhos e esperança. Tanto a eterna cruz como a histórica crucificação de Jesus revelam que sou fruto do amor de Deus. Por isso, tenho todos os motivos do mundo para entender que não sou fruto do acaso ou acidente de percurso da vida. Pelo contrário, tenho motivos de sobra para cultivar uma auto-estima saudável e equilibrada. Dessa forma, encontro sentido para viver sendo semelhante a Jesus, encontro motivação para crescer na graça de Deus e encontro forças para enfrentar as crises existenciais da vida.

Encontro sentido para viver quando sei que a eterna cruz de Cristo foi providenciada antes da criação do mundo para que eu fosse criado a fim de me tornar como Cristo. Este é o propósito de nascer, viver e morrer: ser semelhante a Jesus. Quando cumpro esse propósito é gerado em mim santidade e sanidade. Quando vivo para ser semelhante a Jesus me aproximo cada vez mais do tipo de gente que Deus pretende que eu seja. Quando sou mais semelhante a Jesus mais humano eu sou e mais feliz da vida eu vivo.

Mas sei que isso é um ideal de vida. De vez em quando tenho me desviado do caminho de ser parecido com Jesus e inevitavelmente caio no abismo do pecado. Por isso, encontro diariamente a renovação da graça e da misericórdia de Deus quando sou perdoado desde sempre e para sempre. Graças a Deus pela cruz e pela crucificação que garantem a imutável redenção da minha vida e o perdão de todos os meus pecados em todos os tempos. Tenho experimentado a graça de Deus que revela a disposição de Deus em me amar imerecidamente sem barganhas. Com isso, minha peregrinação existencial tem trilhado a espiritualidade do evangelho da graça de Deus, absolutamente despida de qualquer traço da religiosidade da justiça própria das bargangas. E o Espírito Santo é o selo colado no meu coração que garante o imutável amor de Deus por mim e seu constante investimento na minha vida para que eu me pareça cada vez mais com Jesus.

Nesse processo de me tornar semelhante a Jesus, surgem as crises existenciais inevitáveis na vida durante o caminho da felicidade. Por isso, nas crises da vida e nos períodos de espírito perturbado, encontro contentamento em Deus que me fortalece. Acredito que a felicidade é muito mais do que obter picos de prazeres efêmeros, conquistas, riquezas ou fama; nem é evitar dor, sofrimento ou crises na vida. Felicidade em Cristo é viver semelhante a Jesus. Prazer e sofrimento, conquistas ou fracassos, perdas ou dádivas, fartura ou escassez se mesclam como instrumentos pedagógicos de Deus para formar em mim a espiritualidade do contentamento de e em Jesus. Por isso, tenho aprendido diariamente a viver contente, satisfeito, pleno, realizado, inteiro e feliz em toda situação quando encontro significado nos momentos, acontecimentos e afazeres cotidianos na agenda histórica da minha vida. Só assim tenho aprendido a interpretar minha vida longe da rotina do tédio e do niilismo existencial.

Graças a Deus, eu nasci no lar cristão. E desde sempre fui à igreja-templo como expressão de ser eu mesmo a igreja-povo salvo para ser o corpo de Cristo. Só não nasci na igreja porque não era domingo, mas era uma quinta-feira. Por isso, essa consciência da espiritualidade de Jesus tem sido adquirida com o passar do tempo. Tanto a educação familiar herdada, como minhas idiossincrasias, a convivência com a igreja e as circunstâncias diversas e adversas que surgiram e surgem na minha vida são frutos da graça de Deus, fazendo-me ser quem eu sou hoje: um projeto humano de ser semelhante a Jesus.

Nesse processo de educação para a vida, a minha família é indispensável. Com meu pai tenho aprendido a vocação pastoral de servir a Deus por amor e com perseverança até o fim. Com minha mãe tenho aprendido a amar a Deus apesar da dor. Com minha irmã Kelly tenho aprendido o significado de ser amigo. Com minha irmã Fernanda aprendo o significado de superação em dar tudo de mim para fazer o melhor para Deus. Com minha sobrinha Larissa aprendo a ser criança no Reino de Deus. Com minha esposa Lorena tenho aprendido há 1 ano e 8 meses e 12 dias que casamento é muito mais do que viver como sócios debaixo do mesmo teto; é viver amadurecendo o amor plantado em nós, mesmo em meio aos acertos e desacertos da relação conjugal. É conquistar a mesma mulher amada desde sempre todos os dias e para sempre. E com você eu tenho aprendido a arte da convivência através do amor, serviço e perdão. Pois, aprendo com Jesus que a convivência, o amor, o serviço e o perdão formam o quarteto cíclico da vida de todo relacionamento. Como ninguém é uma ilha humana, escrevo isso porque não vivo sem vocês, uma vez que sou criado à imagem e semelhança de um Deus trino que me programou para viver relacionamentos de amor. Por isso, todas essas pessoas enchem minha bagagem biográfica de conteúdo espiritual, intelectual e afetivo.

Minha biografia ainda está sendo construída. É óbvio que não tenho a ousadia e a pretensão de escrevê-la agora. Tenho muita história para fazer e viver. Por isso, acordei cedo hoje para aproveitar mais e melhor o meu dia de aniversário. Esperava um dia caloroso, mas o frio inesperado chegou aconchegante. E é nesse clima de gratidão que vamos celebrar a vida hoje e sempre.

Recebo até o fim do ano todos os presentes, os abraços, beijos, sorrisos, homenagens e parabéns que quiserem me dar. Recebo toda dádiva com o coração aberto. Sei que cantar parabéns para o aniversariante não passa de uma expressão cultural que estreita laços de amor entre as pessoas. Mas o parabenizado de hoje não deve ser eu, e sim, Aquele que renova sua graça e misericórdia quando acende o dia todo dia com a luz do sol. Ele é o motivo de apagar velinhas todos os anos até que Ele me chame para a festa eterna no céu. E quando Ele me chamar, vou babando de amor para seus braços que é incomparavelmente melhor que tudo. Enquanto essa dádiva eterna não chega, vivo aqui nesse intervalo entre o útero de mamãe e o útero da terra, onde todo meu aniversário é Cristo, e meu sepultamento será a minha maior riqueza.

Tenho tanto para escrever, mas vou deixar para os próximos anos...se eles chegarem...

Em Cristo, o sentido da minha vida

Jairo Filho – Imbituva-PR, 28 de outubro de 2009.

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