Quando seu pregador não é John Piper - Por Steve Burchett

Muitos que tiveram o privilégio de ouvir a pregação de John Piper¹ testificam que ela parece um evento monumental. Sua pregação é uma combinação poderosa de verdade e paixão, levando os ouvintes à convicção e à alegria. Após o sermão, certos ouvintes podem sair se perguntando se estavam na presença de uma figura da qual se falará nos futuros séculos.

Então, eles voltam para suas igrejas onde muitas coisas são diferentes, inclusive a pregação! Felizmente, o Evangelho está sendo continuamente proclamado. Efetivamente, os sermões são completamente bíblicos. Porém, a habilidade de seu pregador regular simplesmente não chega aos pés da pregação fenomenal que ouviram recentemente.

A menos que você frequente regularmente a igreja de um dos célebres pregadores de nossos dias, provavelmente você tem enfrentado uma situação semelhante. Em uma conferência ou na Internet você tem ouvido pregações excepcionais, mas todo domingo está de volta à sua igreja pequena e simples, que dificilmente alguém de outra cidade conhece, com um pastor que é um “João Ninguém” e que provavelmente nunca pregará para milhares.

O que fazer se seu pastor, pregador do Evangelho, não é tão bom quanto um dos grandes oradores de nossos dias? É hora de vender a casa, reunir a família e mudar de igreja? Não, eu não acho. Mas o que você deve fazer?

Primeiro, alegre-se com o fato de que seu pregador é um homem que proclama o Evangelho. Em algumas cidades, achar um homem que prega o verdadeiro Evangelho é tão difícil quanto localizar aquela nova e preciosa bola de golfe que você lançou 100 jardas no meio do bosque! Uma vez tive que suportar um sermão de 40 minutos onde o pregador falou principalmente sobre as férias de sua família. Embora esse seja um exemplo extremo do que não é a pregação do Evangelho, muitos pregadores falham em falar do Deus Santo, da humanidade pecadora e da obra redentora de Cristo. Mas não seu pregador. Ele fala honestamente sobre o pecado, proclama corajosamente “Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co. 2:2) e, então, amorosamente convida seus ouvintes a se arrependerem e crerem. Esse é um motivo para se alegrar.

Segundo, reconheça que certos homens são singularmente dotados pelo Senhor para ter um ministério internacional e ser uma atração internacional, mas esta não é a norma. Uma igreja local típica deve estar satisfeita por apontar como pastores homens que são “irrepreensíveis” em suas vidas, que crêem no Evangelho, estão aptos para ensinar a Palavra de Deus e aspiram servir como pastores (1 Tm. 3:1-7; Tt. 1:5-9). A maioria dos pregadores não será surpreendentemente agradável e polida. Eles podem nunca ser os palestrantes principais numa grande conferência, mas isto não é uma trágica falha em seu lugar no reino de Deus. É precisamente o propósito Dele.

Terceiro, se seu pastor é (honestamente) enfadonho, mas prega a verdade fielmente, uma pequena declaração que eu ouvi uma vez pode ser útil para você relembrar: "O adorador maduro é facilmente edificado". Quando ouvem uma pregação sem brilho (mesmo que bíblica), adoradores imaturos normalmente não dão ouvidos à mensagem porque eles esperavam que o mensageiro fosse mais emocionante. Ao contrário, adoradores maduros recebem ansiosamente a verdade quando ela está sendo proclamada, mesmo que pareça que o pregador está lendo uma agenda telefônica.

Quarto, ouça a pregação dando sinais externos. O que eu quero dizer é o seguinte: sente-se com sua Bíblia aberta e rotineiramente faça contato visual com quem está pregando. Um ocasional aceno de cabeça de sua parte quando o pregador faz uma afirmação acertada irá encorajá-lo e aumentará sua confiança. Em minhas experiências, tanto de pregar quanto de ouvir sermões, posso confirmar que ouvintes que bocejam e ficam com olhares sonolentos fazem pregações medíocres ficarem piores, enquanto ouvintes ansiosos inspiram pregações melhores.

Quinto, encoraje verbalmente os pregadores na sua igreja. Todo pregador que não é extraordinariamente talentoso ouve pregações singulares e lamenta-se: “Depois de ouvir isso, por que eu aindo tento?!”. Este é um estranho fenômeno, mas grandes pregações de renomados mestres de nossos dias fazem pastores “comuns” ficarem desencorajados. Aqui está uma maneira simples para você salvar seu pastor: depois de um sermão, ao invés de simplesmente dizer “belo sermão!” enquanto você se dirige à porta, tire alguns momentos para dizer a ele o que, no sermão, foi especialmente útil e/ou trouxe convicção de pecado. Na primeira igreja onde eu servi como pastor, um jovem casal, cerca de uma vez por mês, ficava conversando comigo após o culto sobre o que eles aprenderam. Essas conversas úteis duravam mais de uma hora. Ainda hoje, fico animado quando recordo o entusiasmo deles por aquilo que foi ensinado.

Nós devemos louvar ao Senhor por nos dar pregadores proeminentes e bem conhecidos, mas que nós não nos esqueçamos do mandamento de Paulo a Timóteo, que estava estabelecido numa igreja local com pastores cujos nomes nenhum de nós conhece: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Tm. 5:17).

¹ John Piper é o principal pastor e mestre da Igreja Batista Belém em Minneapolis, Minnesota (EUA) , e um pregador regular em conferências ao redor do mundo.

 Steve Burchett

Esse texto é muito bom!

Após a leitura compartilho algumas conclusões:


Esse texto dilata minha mente para pensar que é trágico diagnosticar que a audiência evangélica está mais concentrada na embalagem da retórica do que no conteúdo do evanhelho puro, simples e verdadeiro de Jesus Cristo.


Um texto como esse nos alerta e nos incentiva a ouvir a Palavra de Deus mais do que ouvir a retórica humana do pregador. Quando isso não acontece, muita gente é enganada pelo pseudo-evangelho embalado pela fachada de um púlpito eloquente, porque ouvem mais a habilidade retórica do pregador do que o conteúdo de sua mensagem. Isso é semelhante a degustar deliciosamente xixi dentro de uma garrafa de champagne gelada. As pessoas não bebem o conteúdo, mas sim a garrafa e a sua marca.


É verdade que a retórica pode ser uma boa e útil ferramenta para a comunicação do evangelho de púlpito. E ainda que Deus levanta homens especiais com o dom da comunicação para irem e falarem a grandes públicos. Mas, quando a retória do pregador é má utilizada com estrelismo, a eloquência humana pode abafar, esconder, corromper e aparecer mais do que o conteúdo da Palavra de Deus; e a voz do pregador se torna mais ouvida que a voz do supremo pastor Jesus Cristo e a glória de Deus é corrompida.


Por outro lado, também,
bom pregador é aquele que, semelhante a Jesus, torna o chão da existência o púlpito da vida com sua pregação encarnada. Ou seja, o púlpito também pode ser mal usado como um lugar de alienação e esconderijo para não conviver com as pessoas e seus dramas na vida real; e o academicismo da ciência teológica e a retórica com inteligência e carisma, exclusivamente humana, podem ser o statos quo do pregador que está com a síndrome de lúcifer, pregando independente da ação sobrenatual do Espírito Santo que opera invariavelmente na vida dos pregadores humildes e simples.

Imagem não é tudo. Prestemos atenção ao conteúdo. Voltemos ao evangelho. Vamos ouvir a voz do supremo Pastor.


Se nós refletirmos bem na dádiva do que o texto nos propõe a pensar, poderemos acabar de vez com a maldita competição entre pastores e a comparação entre pregadores pela igreja. Competição e comparação são as portas para a entrada de partidarismo, guerra, orgulho, justiça própria, fama, insatisfação, críticas e culpa no meio da igreja. Essas palavras jamais devem pertencer ao vocabulário do Reino de Deus.


Em Cristo, a quem devemos dar ouvidos na voz e na vida de seus servos que pregam o evangelho encarnado no púlpito do chão da vida como ela é.


Jairo Filho
 

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