Eu acredito em milagres

De vez em quando alguém me pergunta se, afinal de contas, eu acredito ou não em milagres. Minha resposta é sempre a mesma, e enfática: claro que acredito em milagres. É inadmissível e absolutamente incoerente um cristão não acreditar em milagres. A questão não é acreditar ou não, mas como acreditar. Isto é, a discussão é a respeito do volume (muito ou pouco), da dinâmica (como acontece) e do propósito (por que acontece) do milagre.

A respeito do volume, acredito que os milagres não ocorrem sempre na mesma proporção em todo tempo e lugar. A história, bíblica e também da igreja, demonstra claramente períodos e contextos de maior frequência de milagres, como, por exemplo, a época de Moisés, de Elias, de Jesus e dos apóstolos. Os profetas protagonizaram poucos milagres, e João Batista, que, segundo Jesus, foi o maior dos nascidos de mulher, não realizou um milagre sequer. Também é claro que os períodos chamados de "reavivamento da igreja" são mais pródigos em milagres que o dia-a-dia comum da igreja.

Quanto à dinâmica do milagre, geralmente se crê que quanto mais cheia do Espírito Santo é uma pessoa, mais milagres será capaz de fazer. O Novo Testamento, entretanto, ensina que o milagre não é questão de plenitude do Espírito, mas de dom do Espírito. A plenitude (estar sob plena influência) do Espírito resulta na experiência do fruto do Espírito, isto é, o caráter e as virtudes de Cristo em nós, e isso é universal: toda pessoa pode experimentar. O milagre é questão de dom do Espírito, quando o Espírito Santo usa alguém para realizar algum feito extraordinário, e isso é particular, pois o Espírito usa pessoas diferentes de maneiras diferentes. Os cristãos de Corinto, por exemplo, não estavam na plenitude do Espírito, mas mesmo assim foram usados pelo Espírito para muitos sinais e milagres, isto é, nenhum dom espiritual lhes faltava.

Finalmente, em relação ao propósito dos milagres, também a Bíblia deixa claro que não se destinam ao conforto ou solução de problemas de qualquer pessoa em particular, mas sim às finalidades de Deus que soberanamente se manifesta e se revela para sinalizar seu reino (sua presença entre nós: Deus está aqui) e atrair glória para o seu nome (sua singularidade entre nós: não há outro Deus). Os milagres existem por causa de Deus, que quer demonstrar seu amor por todos, sem exceções, preferências ou méritos de quem quer que seja abençoado por sua graça.

Eu acredito em milagres. Acredito que Deus é um Deus de milagres. Mas não acredito que o milagre seja a regra a pautar o viver digno diante de Deus e dos homens. O caminho do Deus de poder é o amor. Mais pleno de Deus não é aquele que mais experimenta ou mais protagoniza milagres, mas aquele que ama, sendo capaz de enfrentar o mal, onde quer que se manifeste, e fazer o bem a todos.

Assim nos ensina o Novo Testamento: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer. Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”.

2009|Ed René Kivitz

Fonte: http://www.ibab.com.br/ed090419.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário